O governo do estado do Rio de Janeiro iniciou as obras de um projeto nebuloso na via local RJ-162, que atravessa a Reserva Biológica União e a APA Rio São João/Mico-Leão-Dourado. Apresentada como obra de pavimentação, trata-se, na verdade, de duplicação da rodovia que terá impacto ambiental nas unidades de conservação e no programa de conservação do Mico-Leão-Dourado.
Em 2007, a Associação Mico-Leão-Dourado conseguiu captar recursos internacionais para a aquisição da propriedade de 113 hectares no entorno da via, fundamental para a conexão da paisagem. Nos anos seguintes, foi realizada a restauração florestal, que nos enche de orgulho e que hoje permite a circulação da fauna livremente. A compra e restauração foi possível graça a parcerias importantes com instituições como Saving Species (hoje Saving Nature), IUCN da Holanda, SOS Mata Atlântica, Conservação Internacional entre outras. Em 2017, a Rebio foi ampliada e toda essa área foi incluída em seu perímetro.
Hoje, o governo do Rio de Janeiro está realizando obras que, a princípio, seriam de melhorias e pavimentação da rodovia. Entretanto, a AMLD constatou que se trata de duplicação do seu leito. O trecho da Rebio, ao que parece, não seria duplicado, mas não sabemos se o impacto do aumento da circulação de veículos foi avaliado.
A RJ 162 tem um fluxo extremamente reduzido e atende a pequenos povoados no entorno da Rebio. Não há qualquer justificativa para obra de tal porte, com severo impacto sobre a biodiversidade e cruzando uma Reserva Biológica. A situação é ainda mais absurda se imaginarmos que uma área já restaurada – com circulação de fauna consolidada e com as árvores se conectando sobre o leito da via – receba agora instalação de passagens de fauna! É uma contradição despropositada que deve ter sua necessidade justificada com urgência.
Diferente da rodovia BR-101, cuja duplicação era necessária e exigiu instalação de passagens de fauna, a RJ-162 é uma via local, de circulação reduzidíssima, sem importância estratégica para o desenvolvimento sócio econômico do estado.
Devemos questionar qual o real interesse no investimento de milhões para obras de duplicação desta via. Seria a preparação para o traçado da Ferrovia Rio-Vitória, que a Vale e o Governo Federal já anunciaram? Seria algum outro empreendimento privado desconhecido? Os pequenos distritos do entorno merecem todo respeito, mas até agora está difícil compreender a efetiva motivação da obra.
A AMLD torna público seu estranhamento sobre tal processo, lamenta a falta de transparência das decisões tomadas e convoca a sociedade para a discussão sobre o que queremos de nossas unidades de conservação.