A região de ocorrência do mico-leão-dourado está localizada entre a cidade do Rio de Janeiro, segunda maior metrópole brasileira, e a Bacia de Campos/Macaé, a mais importante área de exploração de petróleo do país. É também uma região de acelerado crescimento urbano e industrial. Por esta razão, diversas infraestruturas atravessam a Área de Proteção Ambiental São João/Mico-Leão-Dourado.
A construção e ampliação de rodovias, como a BR-101, a instalação de linhas de transmissão de energia e de dutos de combustível são exemplos de intervenções que separam a floresta em vários fragmentos. Tal fragmentação é uma grande ameaça aos animais que vivem na Mata Atlântica. Pela BR-101 trafegam caminhões pesados, maquinários de grande porte, moradores e turistas em busca das praias e a caminho de outras cidades do Sudeste e Nordeste. Antes de sua duplicação, a estrada registrava alto índice de acidentes, com grande número de mortos e feridos, além do atropelamento de fauna, incluindo o mico-leão-dourado.
Com a duplicação do trecho entre Casimiro de Abreu e Rio Bonito, o número de acidentes diminuiu, mas trouxe outro prejuízo para os animais: uma barreira praticamente intransponível. Isso aumenta ainda mais o isolamento de populações silvestres, como os grupos de micos-leões-dourados, que precisam interagir para perpetuar o cruzamento genético e manter as populações saudáveis. Se os micos se reproduzirem somente entre as mesmas famílias, a longo prazo estarão mais vulneráveis a doenças. Seria um risco a mais para uma espécie que figura entre as ameaçadas de extinção.
O direito do mico passar
Desde 2012, a AMLD atua para que a duplicação da rodovia seja realizada respeitando a fauna. Por isso, participou no processo de licenciamento para ajudar os órgãos ambientais a identificar os locais estratégicos para colocação de passagens para a fauna.
Após uma ampla campanha de mobilização – que envolveu parceiros e simpatizantes, abaixo-assinado e até uma Ação Civil Pública, encaminhada pelo Ministério Público Federal de Macaé – as medidas mitigadoras previstas no licenciamento ambiental foram finalmente cumpridas.
Para superar a barreira da rodovia, foram construídas 10 passagens do tipo copa-a-copa das árvores, 15 túneis para a fauna terrestre e foi feita adaptação dos vãos de ponte para facilitar a circulação dos animais quando os rios cruzam a rodovia.
Além disso, foi construído um viaduto vegetado, o primeiro em rodovias federais no Brasil, que conecta a Reserva Biológica de Poço das Antas ao local que hoje é a sede da Associação Mico-Leão-Dourado e o Parque Ecológico do Mico-Leão-Dourado.
O viaduto foi inaugurado em agosto de 2020, mas os plantios foram concluídos apenas em novembro de 2021. A AMLD é responsável pelo monitoramento de fauna no viaduto, em especial do mico-leão-dourado e da preguiça-de-coleira.
É necessário que as mudas cresçam e se transformem em árvores para que grupos de micos-leões-dourados e de preguiças possam começar a se aventurar pela passagem. Enquanto isso, outros animais como cachorros-do-mato, seriemas e tamanduás-mirins já foram registrados no viaduto. O licenciamento prevê ainda um segundo viaduto no km 240 da mesma rodovia, depois de avaliados os resultados deste.
A Associação também participa do Projeto Connect, executado pela Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) com recursos da Petrobras, que estuda e propõe mecanismos para facilitar a passagem da fauna sobre os gasodutos e oleodutos que também cruzam – e fragmentam – a paisagem da APA.
Passagens criadas
para os micos
Essa é uma passagem de fauna que conecta uma árvore a outra. Elas foram instaladas dentro da área de ocorrência do mico-leão-dourado e são utilizadas para cruzar a faixa por onde passa o oleoduto. Por segurança, a área sobre os dutos não pode ter floresta. Por isso, é essa passagem que vai permitir que animais que não costumam descer ao solo para se locomover, como o próprio mico-leão-dourado, possam ir de um lado para outro da floresta.
Construção do viaduto vegetado
Enquanto os micos esperam as árvores crescerem para passar pelo viaduto vegetado, várias outras espécies foram flagradas aproveitando o novo acesso
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